O Rio Aquidauana, um dos mais importantes símbolos naturais do Pantanal sul-mato-grossense, vem sendo sufocado não por um desastre natural, mas pela ação direta do homem. A construção de uma ponte de concreto de 397 metros, parte das obras da BR-419, transformou o leito do rio em um canteiro de obras lamacento, tomado por tratores, caminhões e toneladas de terra que escorrem diariamente para dentro da água.
O vídeo que circula nas redes sociais revela uma cena alarmante: máquinas avançando até o meio do rio, árvores cortadas às margens e montes de sedimentos despejados sem qualquer tipo de contenção visível. O que antes era mata ciliar fundamental para proteger o curso d’água virou um barranco de terra nua, vulnerável à erosão e às chuvas.
Moradores e ambientalistas da região estão revoltados. “O rio está sendo estrangulado, e parece que ninguém se importa. Cortaram árvores centenárias, e a água está cada vez mais turva”, relatou um morador que preferiu não se identificar.
Apesar da destruição evidente, o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) garantiu, em nota, que a obra está “regularmente licenciada” e que a Polícia Militar Ambiental (PMA) não constatou irregularidades até o momento. O órgão promete continuar acompanhando os trabalhos, mas evita se posicionar sobre o impacto visível nas margens e no leito do rio.
A justificativa técnica, porém, não convence quem vive às margens do Aquidauana. “De que adianta uma licença se o resultado é esse? Um rio sufocado e uma mata ciliar devastada? Licença não é salvo-conduto para destruir”, questiona uma ambientalista local.
Especialistas alertam que o assoreamento causado pelo acúmulo de sedimentos pode comprometer a qualidade da água e afetar todo o ecossistema aquático — incluindo peixes e outras espécies que dependem do rio para sobreviver. A perda da vegetação ribeirinha também reduz a capacidade de regeneração natural do ambiente e aumenta o risco de enchentes.
A obra da BR-419, anunciada como símbolo de progresso e integração regional, começa a mostrar o outro lado desse “desenvolvimento”: um avanço que atropela o meio ambiente, desrespeita o equilíbrio ecológico e trata a natureza como obstáculo a ser removido.
Enquanto os órgãos públicos garantem que “tudo está dentro da lei”, o Rio Aquidauana agoniza em silêncio, coberto por lama e cercado por troncos caídos — mais uma vítima da velha lógica de crescimento a qualquer custo.



























