Por volta do meio-dia de ontem, a rotina de Samambaia Sul foi interrompida por gritos, correria e desespero. No estacionamento de uma academia, na QR 516, a vida de Cheryla Carvalho de Lima, de 44 anos, foi brutalmente arrancada com golpes de faca desferidos por João Paulo Silva Matos, 35, com quem estava em um relacionamento há cerca de um mês.
Cheryla tinha acabado de deixar a filha no trabalho quando foi surpreendida pelo agressor. Segundo testemunhas e familiares, o casal discutiu antes do ataque. “Só ouvimos os gritos e a confusão aqui na rua, mas, quando chegamos, ela estava estirada no chão”, disse um morador local que não quis se identificar. Segundo relatos de testemunhas, João Paulo teria segurado a mulher e a esfaqueado repetidamente no pescoço, nas costas e na barriga.
Após o crime, o homem fugiu do local, mas foi capturado pouco tempo depois por um policial de folga. O militar Marcos Bontempo tinha saído da academia e presenciou a cena. “Assim que ouvi os gritos, saí correndo e vi algumas pessoas desesperadas pedindo socorro. Quando cheguei mais perto, vi a mulher caída no chão, bastante machucada”, relatou o policial.
Enquanto estava ao telefone, pedindo socorro para a mulher, populares informaram a direção por onde o suspeito havia fugido. Minutos depois, o soldado conseguiu localizá-lo cercado por populares. “As características batiam e a arma, uma faca, estava no local. Dei voz de prisão ali mesmo. Ele ofereceu resistência, mas consegui contê-lo até a chegada das viaturas”, contou. O apoio veio do 10º Batalhão, que cobre Samambaia, e do próprio 27º Batalhão, onde o soldado é lotado.

Sinais de tragédia
Dentro de casa, a relação era vista com preocupação. A família de Cheryla nunca aprovou o namoro. “A gente sabia que ele não era boa pessoa. Ele já tinha sido preso, usava drogas, bebia. Meu pai dizia que ele tinha espancado a ex-mulher”, contou a filha da vítima, Thamyres Carvalho dos Santos, 22. Segundo ela, apesar dos alertas, a mãe insistia na relação. “Ela só queria ser amada. Tentou se afastar, mas ele sempre a procurava, e ela voltava”.
Cheryla morava com a mãe, os filhos e os irmãos na QR 514, a poucos metros de onde foi morta. O agressor não era bem-vindo na residência e costumava se encontrar com a vítima na rua. “A gente evitava contato. Não deixava ele entrar em casa. Sempre que ele tinha contato com a minha mãe, era na rua. Ele a chamava, e eles ficavam na esquina”, disse Thamyres.
João Paulo tinha um histórico criminal extenso. Segundo familiares, ele havia sido preso por tentativa de latrocínio e por homicídio. “É um homem perigoso. A vizinha contou que ele havia sido preso por matar alguém, e mesmo assim estava solto. Agora, matou minha irmã. E depois, quem será a próxima?”, questionou Fábio Carvalho de Lima, irmão de Cheryla. Ele contou que, ao chegar ao local do crime, viu o corpo da irmã sem vida, coberto por uma lona, enquanto o Corpo de Bombeiros tentava reanimá-la sem sucesso.
A família relata que Cheryla enfrentava problemas de saúde nos últimos anos. Após um acidente vascular cerebral (AVC), passou a ter lapsos de memória e dificuldades para concluir tarefas simples do dia a dia. Mesmo assim, continuava presente na vida da filha e da família. “Ela acordava, ajudava em casa, estava presente da forma que podia. Era uma boa mãe”, relembra Tamires, emocionada.

Luto e impotência
Enquanto no local do crime sobrou uma poça de sangue, na mente de quem era próximo de Cheryla, resta um vazio imensurável. Thamyres lamenta a perda irreparável e a sensação de impotência. “Não me sinto bem, nem sinto que houve justiça. Ele está preso, mas minha mãe está morta. Nada vai trazê-la de volta.” Em meio ao luto, a dor se mistura à indignação. “No Brasil, sabemos como é. Eles prendem, depois soltam. Meu medo é que ele faça isso com outra mulher”, lamenta.
Fábio Carvalho, 44, irmão da vítima, sente intensa revolta. “Minha mãe está lá em casa, sem chão, sem conseguir falar. Sabíamos que não ia dar certo esse relacionamento, mas não deu tempo de tirar minha irmã disso”, comentou. Ainda em choque, ele diz que a prisão do agressor não é suficiente para aliviar a dor da perda. “A polícia prendeu ele na rua de cima, com a faca ainda na mão. Foi flagrante. Mas e daí? Ele matou antes, e nada aconteceu. Agora, matou de novo. Espero que dessa vez fique preso”, conclui.
João Paulo foi autuado em flagrante por feminicídio e conduzido à carceragem da corporação. O caso será investigado pela 26ª Delegacia de Polícia, em Samambaia.






















