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OSCs no DF: a coroa do rei

Nos bastidores do poder, contratos milionários e organizações sociais de fachada revelam o império silencioso dos chamados “reis das OSCs” no Distrito Federal

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Por Mino Pedrosa

Mesmo denunciado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) como chefe de uma organização criminosa, o empresário do setor de eventos Aci Carvalho segue agindo com desenvoltura nos bastidores do poder. Sob a aparência de normalidade, ele articula negócios milionários por meio de empresas associadas e organizações sociais de fachada, mantendo o anonimato que o protege das consequências jurídicas e morais de seus atos.

A Operação Krampus, conduzida pelo Gaeco/PCDF em parceria com o MPDFT, parecia ter desmantelado o esquema que tinha Aci no centro. Mas a aparente derrota revelou-se apenas uma pausa estratégica. O modus operandi do empresário, segundo investigações, não desapareceu — apenas se sofisticou. O que antes era explícito, agora se reveste de formalidades e contratos “limpos”, sustentados por laranjas e empresas de fachada que movimentam milhões sob o olhar cúmplice de autoridades e servidores.

A teia de poder e o jogo político

Nos corredores do poder em Brasília, Aci é nome proibido, mas influência constante. Lobistas e operadores de confiança circulam entre gabinetes de deputados distritais e secretarias do GDF, garantindo a continuidade de contratos e a manutenção de um sistema de influência que transforma cultura e turismo em negócios privados com dinheiro público.

Uma das frentes mais escandalosas envolve a empresa Infinity Locações e Eventos LTDA (CNPJ 52.579.310/0001-06), apontada como instrumento de movimentação de mais de R$ 4 milhões apenas neste mês, em eventos supostamente culturais.

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O caso Expomix e o rastro do dinheiro

O 6º Festival Expomix, em Sobradinho, tornou-se o símbolo da engrenagem. O evento recebeu R$ 1,9 milhão em emenda parlamentar do deputado Daniel Donizet, conforme ofício eletrônico nº 17.438 (emenda 00110.01). O recurso foi repassado à Associação Semper Fidelis, uma entidade cuja sede não corresponde ao endereço declarado à Receita Federal, fato que levou o MPDFT a notificar a Secretaria de Turismo do DF sobre a fraude.

O secretário Cristiano Araújo, segundo fontes internas, mantém estreita relação com Aci Carvalho, sendo apontado como um dos garantidores da continuidade dos contratos. O presidente Eduardo Faad também aparece citado como articulador de bastidores para assegurar a liberação de novos projetos.

A fiscalização do Expomix revelou cenários de negligência e risco à saúde pública. Relatórios indicam banheiros químicos em estado deplorável, cabeamento elétrico exposto, ausência de seguranças e até intervenção da Polícia Militar. O odor de urina e o acúmulo de lixo próximos ao palco principal criaram um ambiente insalubre, agravado pela venda de bebidas sem controle sanitário.

A responsável pela Vigilância Sanitária do DF, Patrícia Raindo, foi alertada das irregularidades, mas preferiu encaminhar o caso à Ascom, numa tentativa de “ganhar tempo” e conter danos à imagem do evento.

Emendas

Documentos indicam que Aci Carvalho, apelidado de “Rei das OSCs”, orquestra uma rede de pelo menos 15 instituições registradas em nome de terceiros. O sistema, revelado em colaboração premiada sob sigilo, teria servido para captar verbas de emendas parlamentares e garantir influência em múltiplas secretarias.

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Entre os políticos citados, aparecem Jaqueline Silva, com repasse de R$ 450 mil (ofício 16.750, emenda 03077.01), e João Hermeto, com R$ 200 mil (ofício 17.527, emenda 00364.01), ambos pela Secretaria de Turismo, sob gestão de Cristiano Araújo. O restante dos valores foi coberto com recursos da fonte 100 da própria pasta.

De acordo com a delação, Aci também financia ações judiciais contra entidades concorrentes, numa estratégia de “guerra suja” para sufocar projetos rivais e monopolizar o mercado de eventos culturais do DF. O resultado é um cartel disfarçado de cultura popular, sustentado por recursos públicos e blindado por relações políticas.

Nos bastidores, fala-se em uma vaquinha milionária para garantir a realização dos eventos de Natal e Réveillon, cujos pagamentos só ocorrerão no próximo exercício. As OSCs escolhidas precisam antecipar parte dos valores, formando um caixa paralelo que reforça o poder de barganha de Aci e sua rede.

A capital da República assiste, impotente, à perpetuação de um império de influência e corrupção, comandado por quem aprendeu a sobreviver às sombras da legalidade.

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